Setor de proteína animal brasileiro mostra ceticismo

Frase destaque: Até o ano passado, gastávamos 90% do nosso tempo e energia para abrir novos mercados. Neste ano, estamos trabalhando muito mais para manter os mercados que conquistamos e só 10% para conseguir novos. FRANCISCO TURRA, Presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). As exportações brasileiras de carne bovina, suína e de frango para a China crescem nos últimos anos, mas não há grande entusiasmo com a possibilidade de vir a vender mais com a proteína animal americana sobretaxada. No primeiro semestre deste ano, os chineses abocanharam um quarto de todos os embarques do setor de suínos do Brasil. Até 2015, não chegava a 1%. No caso do frango, a fatia passou de 5,5%, em 2013, para 13,3%, nos seis primeiros meses deste ano.

O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, avalia que, na prática, está difícil de o Brasil ocupar esse espaço. Apesar de a China acenar para o país como um aliado e fonte de segurança no fornecimento de alimentos, o tratamento, na hora de agir, tem sido diferente. A contradição, relata o dirigente, aparece por exemplo na decisão chinesa que estabeleceu, desde junho, taxas antidumping que vão de 18% a 38% para o frango brasileiro.

A medida, por enquanto, é provisória, e uma decisão final será tomada em agosto. – Fazem declarações de amor dizendo que o Brasil é um grande parceiro, mas o comportamento é estranho. Teremos de brigar na Organização Mundial do Comércio, porque não praticamos nenhum dumping – ressalta Turra, referindo-se à prática de concorrência considerada desleal, quando as exportações ocorrem, em tese, a preços abaixo do mercado. Turra diz desconfiar que a disputa acabe mais no discurso do que na prática. Como exemplo, cita a iniciativa do México de sobretaxar a carne suína americana em 20%, decisão que foi entendida como oportunidade para o produto brasileiro.

Apesar das promessas, essa possível vantagem encontra dificuldade para se concretizar, afirma o dirigente. A escalada do protecionismo, na maior parte das vezes pela gritaria de produtores locais, vem preocupando o setor.  O analista Paulo Molinari, da Safras & Mercado, avalia que o impacto direto das sobretaxas chinesas às carnes americanas é reduzido.

O Brasil teria poucas vantagens a partir da medida. – O efeito é pequeno, um pouco mais na carne suína, onde a China compra mais dos Estados Unidos. Nas outras, o volume é menor – conta Molinari. Para o especialista, o resultado da disputa entre as duas potências tende a ser negativo.

Os efeitos da guerra comercial podem ser sentidos pelas economias das duas nações pela redução do fluxo de comércio dos países de maior Produto Interno Bruto (PIB) do mundo, respingando em outras nações e abalando toda a economia global. Segundo Turra, não há temor de que um possível aumento nas exportações de soja torne mais escasso o farelo no mercado interno e afete o setor de rações para aves e suínos. Ele lembra que, em regra, apenas 20% é farelo de soja, que também pode ser substituído por outros cereais, como trigo. Em último caso, também é possível importar farelo da Argentina. (Leia a matéria completa: https://bit.ly/2zYv91W)

 Fonte: Zero Hora